
Cora Coralina e um sentido para a educação financeira
O primeiro contato que tive com a obra da poeta Cora Coralina (1889-1985) marcou e contaminou para sempre minha percepção como professor e pai. Dizia ela:
O saber a gente aprende com os mestres e os livros.
A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes.
Depois de muitos anos guardado em algum canto do cérebro, um pouco empoeirado, o ensinamento ressurgiu e se tornou um mantra para mim. Já a nossa poetisa doceira virou uma fonte de inspiração e admiração. Coincidentemente ou não, este ressurgimento se deu em um daqueles momentos em que tudo parece estar desabando, e o grande desafio é sobreviver. Aí, do nada, ela reapareceu dizendo algo simples, característica marcante de toda a sua trajetória:
Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.
Você, que já passou por momentos angustiantes, experimente revisitá-los à luz desse ensinamento.
Aliás, a conhecida poeta das coisas simples, da caridade e cidadania, tinha o dom de encantar e estimular uma reflexão sobre o sentido da vida, da existência. Em um trecho de um dos seus poemas, “Cora Coralina, quem é você?“, ela literalmente se mostra uma aristotélica convicta:
Numa ânsia de vida eu abria
o voo nas asas impossíveis
do sonho.
E também em “Assim eu vejo a vida”:
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
E o que isso tudo tem a ver com educação financeira?
No livro “Sua Excelência, a escola!”, aprovado no PNLD literário 2021, procurei evidenciar na prática a importância da educação financeira como subsunçora no processo ensino-aprendizagem. A fundamentação teórica é a Teoria da Aprendizagem Significativa, de David Ausubel.
Pois bem, a obra e, principalmente, a vida da nossa poeta nos estimulam a uma reflexão riquíssima sobre a natureza e a importância deste tipo de educação, que poderíamos resumir assim: a educação financeira deve ser vista, tratada e aplicada nas escolas como meio, e não como fim em si mesma. Dito de outra forma, ao seu estilo:
Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar.
Ana Lins dos Guimarães Peixoto, que assumiu o pseudônimo de Cora Coralina, cujo significado é “coração vermelho”, ilumina esta dimensão humana e o papel da educação quando afirma:
Acredito nos jovens à procura de caminhos novos, abrindo espaços largos na vida.
Creio na superação das incertezas deste fim de século.
Eu comungo desta crença, da necessidade de superação das incertezas, dos medos e da ignorância que escraviza e cujas vacinas são mundialmente conhecidas: a educação e as escolas de qualidade. E é neste ponto, muito bem resumido nesta frase, um mantra para mim, que ancoro os fundamentos da necessidade da educação financeira como meio de materializar utopias e superar incertezas.
A presença de Cora Coralina em Penápolis
Minha empatia por Cora Coralina também é enorme pela sua relação com Penápolis, onde nasci. Ela morou na cidade do interior paulista entre os anos de 1936 e 1941.
Lá também deixou sua marca indelével de mulher simples, que, para sobreviver, foi a campo produzir linguiça e banha de porco, escrever e colaborar com a arborização da cidade, também conhecida como Princesinha da Noroeste. Por sua obra, seus ensinamento e sua existência, a cidade a condecorou como Cidadã Penapolense.


