Por Joel Pontin - 8 de agosto de 2022

Sustentabilidade é um bom hábito que educa a mente, o corpo e toda a sociedade. O significado da palavra, exaustivamente pronunciada atualmente na mídia, nas empresas e nas escolas, é muito mais do que um simples conceito.

De modo geral, no senso comum, esse conceito está associado à gestão de processos que visam reduzir ou eliminar impactos ambientais, para garantir que as próximas gerações também possam usufruir dos mesmos recursos que a atual, incluindo seus filhos, filhas, sobrinhos e sobrinhas.

O termo é originalmente atribuído à primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, que o cunhou em um pronunciamento na ONU em 1987, quando então foi lançado o relatório Our Common Future,[1] reconhecido como um grande alerta ao mundo sobre a urgência da necessidade de mudar o caminho que a sociedade vinha trilhando.

Modernamente, reconhece-se que um processo ou atividade só é de fato sustentável se, em toda a sua cadeia, incluindo extração, transformação da matéria-prima, logística de distribuição e pós-venda, forem observadas simultaneamente três perspectivas: social, ambiental e econômica.

Sustentabilidade social: dignidade às pessoas e comunidades

A sustentabilidade social está relacionada a um tratamento digno, respeitoso e salubre de todos os atores envolvidos no processo, mas não só isto: presume que esta dimensão transborde para além das fronteiras do negócio em si e o seu entorno, como comunidades, associações e instituições.

Dito em outras palavras, não basta que os colaboradores de uma determinada indústria sejam tratados respeitosa e dignamente; é preciso garantir que o social do seu entorno também tenham tratamento semelhante.

Sustentabilidade econômica: estabilidade financeira com responsabilidade

A dimensão econômica da sustentabilidade pressupõe, sim, o lucro da atividade, mas este lucro deve ter responsabilidade com as partes interessadas, tradução para o que hoje se chama de capitalismo de stakeholders.

Neste contexto, um dos dilemas que marcam discussões sobre sustentabilidade é a necessidade de assegurar a estabilidade financeira das empresas e, ao mesmo tempo, adequar seus processos de modo a reduzir impactos ambientais e sociais. Investir em novas tecnologias, treinamento e redução de impactos significa muitas vezes introduzir uma mudança cultural profunda na empresa, o que esbarra em dificuldade de financiamento e apoio.

Sustentabilidade ambiental e os 6 Rs

A perspectiva ambiental é provavelmente a mais difundida e, muitas vezes, confundida com a base da sustentabilidade. Uma mudança cultural  está em curso. Os 6 Rs da sustentabilidade são expressões notáveis desta mudança:

1 – Reciclar matérias-primas que seriam descartadas

A reciclagem pressupõe a reintrodução de uma matéria-prima, que seria jogada em um lixão ou um aterro sanitário, na linha de produção de novos materiais. As latinhas de refrigerantes e cervejas à base de alumínio são notáveis exemplo. A reciclagem das latinhas reduz a demanda de bauxita, reduz a quantidade de energia elétrica e o impacto do descarte.

2 – Reusar objetos com novos usos

Você pode dar um novo uso àquilo que seria descartado. Sem dúvida alguma aqui temos um excelente exemplo de como a consciência ambiental pode trazer excelentes benefícios e ramificações em diversas áreas, como saúde e economia. O reúso da água, por exemplo, tem se difundido de maneira extraordinária até mesmo em projetos de construtoras de prédios residenciais e comerciais. O reúso de pneus é um outro ótimo exemplo e vem crescendo significativamente.

3 – Reduzir o consumo, diminuindo o desperdício

O consumo consciente é determinante para evitar desperdícios e, consequentemente, reduzir significativamente a produção de lixo, especialmente nos grandes centros urbanos. Também é determinante na redução do consumo de água e energia, poupando a pressão sobre reservatórios hídricos destinados aos abastecimentos residenciais e comerciais, além de desafogar as centrais hidroelétricas.

4 – Repensar os hábitos e as prioridades

No curso da vida, nos acostumamos com as mudanças de prioridades que ocorrem naturalmente. Muitas vezes elas acontecem sem que tenhamos consciência do porquê. Nem sempre nos damos conta que precisamos potencializar estas prioridades à luz do que queremos para nossos filhos, filhas, sobrinhos e sobrinhas. Perguntas que incomodam e iluminam o ato de pensar, com foco em práticas ambientais: é possível trocar o carro pela bicicleta? Preciso mesmo de determinado produto?

5 – Recusar produtos e serviços de determinadas empresas

Cultivar bons hábitos educa a mente e o corpo. O hábito de recusar criteriosamente determinados produtos e serviços de empresas pode ser revolucionário na medida que influencia o entorno e pressiona a cadeia produtiva para implementar determinadas práticas que agregam valores. Muita gente já recusa produtos de empresas que utilizam do trabalho infantil em sua linha de produção, por exemplo.

6 – Reintegrar matérias orgânicas ao ambiente

Considerável percentagem do lixo urbano corresponde à matéria orgânica, que chega a ser superior a 50% em algumas cidades. O destino adequado à matéria orgânica putrescível é a usina de compostagem. Porém elas são raras, especialmente nos grandes centros urbanos, porque ocupam extensas áreas, exalam gases fétidos e têm lenta cinética de processamento.  Uma prática sustentável é destinar esta matéria orgânica a composteiras domésticas para produzir adubos orgânicos, que podem ser utilizados em diversos cultivares, como hortas, ou até mesmo ser comercializados.

Viu como não é difícil assim ser sustentável? Os alunos da Martin Luther King adotam vários Rs ao longo do livro “Sua Excelência, a escola!”, aprovado no PNLD-2021. Confira nosso mapa conceitual sobre os 6Rs.


[1] Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora Getulio Vargas, 1991, 430p.