
Acidente de Chernobyl não foi proposital, mas a Guerra da Ucrânia é
O que se pode dizer sobre conflitos que assolam o mundo, como a Guerra da Ucrânia, senão o quão longe a estupidez humana pode alcançar. Soma-se à estupidez, a ignorância. Já dizia o provérbio: “a ignorância é atrevida”, ao que acrescento: e usa a violência para expressar sua pequenez. A Guerra da Ucrânia, que hoje destrói o país, está sendo provocada pelo homem. Não é o caso do acidente de Chernobyl, que aconteceu no mesmo país.
Há 36 anos, o triste episódio de destruição em Chernobyl não foi consequência da ação deliberada de alguém. No dia 26 abril de 1986, todas as estruturas que sustentam a humanidade foram seriamente abaladas pelo acidente nuclear em um dos quatro reatores da usina de Chernobyl, na Ucrânia, que então pertencia à União Soviética.
O acidente de Chernobyl foi provocado por falha humana. Algumas medidas e circunstâncias evitaram uma catástrofe generalizada, como a feliz decisão de desligar o reator vizinho, apesar da negativa da chefia.
Não é preciso ser um especialista em Física Nuclear para ter noção do risco que a humanidade correu por causa do acidente de Chernobyl. Em uma analogia bem reducionista, se o núcleo de um dos reatores fosse danificado a ponto de expô-lo à gigantesca elevação da temperatura do líquido refrigerado que mantém o controle térmico do reator, poderia acontecer uma sucessão de reações em cadeia, com explosões que poderiam atingir as estruturas vizinhas, que por sua vez ampliariam muito mais a gravidade da tragédia. Muito provavelmente não haveria sobreviventes para relatar o que aconteceu.

Os números do acidente de Chernobyl
Os números associados ao acidente de Chernobyl não são de todos confiáveis porque as informações não foram auditadas, já que a usina era gerenciada diretamente por Moscou e, por extensão, pelo Partido Comunista. Mas o espalhamento generalizado de radiação foi percebido em diversos países, a milhares de quilômetros de distância, dando uma ideia da gravidade da situação.
A Organização das Nações Unidas estimou que cerca de 50 trabalhadores morreram no próprio dia do acidente de Chernobyl ou alguns meses depois do acidente, em decorrência de síndrome aguda da radiação ou câncer desencadeado pela exposição radioativa. Dados atualizados em 2005 estimavam em cerca de 4.000 óbitos decorrentes da contaminação por radiação.
À medida que novas investigações e estudos sobre o acidente de Chernobyl avançam, o tamanho da tragédia é reavaliado: “…. relatório publicado por membros da Academia Russa de Ciências, que foi alvo de controvérsia, indica que poderia haver até 830 mil pessoas nas equipes de limpeza de Chernobyl. Eles estimaram que entre 112.000 e 125.000 destes – cerca de 15% – haviam morrido até 2005. Muitos dos números presentes nesse estudo, no entanto, foram contestados por cientistas do Ocidente, que questionaram sua validade científica”. (Disponível em: www.g1.com.br. Acesso em: 25.04.22)

Sabemos como começou, mas não como terminará
Para você, que enxerga uma certa paranoia na recuperação fática do acidente de Chernobyl porque já se passaram algumas décadas, lembro que na própria região da tragédia está acontecendo a Guerra da Ucrânia, que se arrasta há meses.
Lembro ainda que, na ocasião do acidente de Chernobyl, em 1986, países do mundo inteiro se solidarizaram e se uniram em um esforço hercúleo para conter rapidamente os danos e a gravidade do acidente. Dito de outra forma, todos jogaram no mesmo time, com o mesmo objetivo: contenção.
O que assistimos hoje com relação à Guerra da Ucrânia é uma contenda, na qual prevalece a insensatez, a força e a irresponsabilidade de não saber o poder de destruição de alguns recursos bélicos, como os nucleares. Alguns mísseis atualmente são capazes de lançar ogivas nucleares a milhares de quilômetros da sua origem com poderes de destruição muito superiores àquelas lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Lembro ainda que, até agora, todas as usinas nucleares do mundo têm processos baseados na fissão (quebra) do núcleo do átomo, como em Chernobyl. Mas estão em curso expressivos avanços na tecnologia de fusão nuclear (união de átomos). A liberação de energia nestes processos é muito maior que a da fissão e, consequentemente, o poder de destruição, também. Para ter uma ideia, bombas nucleares baseadas em fissão assemelham-se a traques quando comparados às de fusão. Embora não se tenha certeza ainda do domínio tecnológico deste recurso, há algumas evidências preocupantes como as já mostradas pela Coreia do Norte.
Faço coro às palavras de Albert Einstein: “A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Prefiro deixar-me assassinar a participar dessa ignomínia”.

